“Pessoa deficiente”, “pessoa com deficiência”, “pessoa portadora de deficiência”, “PPD”, “pessoa portadora de necessidades especiais”?
Embora possa parecer uma discussão desnecessária, a adoção de termos corretos legitima os avanços da humanidade em direção a uma sociedade que busca superar seus próprios preconceitos. Deve-se chamar “pessoa com deficiência”. Apesar de a legislação no Brasil (inclusive a Constituição) se referir à “pessoa portadora de deficiência”, este termo não é mais utilizado pelo movimento de inclusão social. Primeiro, porque mundialmente se fala “pessoa com deficiência”. E em segundo lugar, porque, gramaticalmente falando, uma deficiência não se “porta”, como uma bolsa ou um guarda-chuva, dela a pessoa não podendo se desfazer, como ocorreria com os objetos mencionados. Siglas também não são bem-vindas. Assim, é bom esquecer a usual sigla “PPD” (pessoa portadora de deficiência) ou “PPNEE” (pessoa portadora de necessidades educacionais especiais). Afinal, ninguém se sente confortável em ser identificado por uma sigla. Por outro lado, em textos jornalísticos, em textos coloquiais, em quadros estatísticos etc., é aceitável, por economia de espaço, a grafia “PcD” (pessoa com deficiência). Esta sigla é invariável em número. Portanto, escreve-se “a PcD”, “as PcD”, “da PcD”, “das PcD”, “de PcD”. O termo “pessoa portadora de necessidades especiais” ou “pessoa com necessidades especiais” desagrada o movimento inclusivo. “Necessidades especiais” todos têm, e não só as pessoas com deficiência. Afinal, quem não tem necessidades especiais em sua vida?
Quanto às deficiências, preferir utilizar: a) “pessoa com deficiência intelectual”, em vez de “deficiência mental” (desde 2004 a OMS substituiu o termo); b) “pessoa com deficiência auditiva” ou “surdo”, em vez de surdomudo (o surdo se comunica, por exemplo, por meio da Libras); c) “pessoa com deficiência visual” ou cego, em vez de ceguinho, d) “pessoa com síndrome de Down, em vez de mongolóide; e) pessoa com deficiência múltipla , em vez de inválido. Não é possível tratar desta questão sem se referir ao respeitado consultor de inclusão social Romeu Kazumi Sassaki: “Em primeiro lugar, vamos parar de dizer ou escrever a palavra “portadora” (como substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo “portar” como o substantivo ou adjetivo “portadora” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que está presente na pessoa. Uma pessoa só porta algo que ela possa não portar, deliberada ou casualmente. Por exemplo, uma pessoa pode portar um guarda-chuva se houver necessidade e deixá-lo em algum lugar por esquecimento ou por assim decidir. Não se pode fazer isto com uma deficiência, é claro. Outro motivo para descartarmos as palavras “portar” e “portadora” decorre da universalização do conhecimento pela internet, processo este que está nos conectando em tempo real com o mundo inteiro. Assim, por exemplo, ficamos sabendo que em todos os lugares do mundo as pessoas com deficiência desejam ser chamadas pelo nome equivalente, em cada idioma, ao termo “pessoas com deficiência””.
Ramilson da "ADEFICAL"
Nenhum comentário:
Postar um comentário